Em 2014, a Revista Theoria entra em seu sexto ano de publicação, continuando a missão de promover o diálogo das ideias, em busca da verdade e do bem. Alegra-nos muito a contínua participação de autores e leitores de diversas partes do país, que enriquecem nossa iniciativa editorial.
Neste primeiro número de 2014, contamos com três artigos referentes ao pensamento poliédrico de Paul Ricoeur, oriundos de algumas das conferências apresentadas em setembro passado na Jornada Filosófica “O Legado de Paul Ricoeur”, realizada pela Faculdade Católica de Pouso Alegre, por ocasião do centenário de nascimento do filósofo francês.
Além disso, os demais artigos abordam diversos autores clássicos e contemporâneos, de Platão a Nietzsche, de Hannah Arendt a Amartya Sen, sem faltarem acenos à filosofia analítica e ao diálogo entre filósofos e biólogos. Numa leitura transversal, questões que alguns autores levantam, outros desenvolvem, outros tentam responder, como é o caso do questionamento nietzscheano à religião cristã, que Ricoeur procura positivamente enfrentar .
Convidamos os leitores a continuarem conosco no empenho do diálogo filosófico construtivo, pois, parafraseando Ricoeur, a realidade não deixa jamais de nos interpelar e de nos fazer pensar.
O Conselho Editorial
Este estudo tem por finalidade abordar o pensamento de Paul Ricoeur em relação ao conceito de sujeito, preservando a noção por ele utilizada, de identidade, bem como a ideia de si-mesmo. Serão realizados algumas observações à filosofia do cogito, em Descartes e Nietzsche, bem como a proposta ricoeuriana da hermenêutica do si. Serão objetos de atenção mais detalhada nesta pesquisa o prefácio à obra Soi-même comme um autre (1990) e o artigo Identidade narrativa, uma vez que, esses escritos apresentam um ritmo dialético do sujeito que inclui em si mesmo o próprio outro, e que só pode ser pensado em relação com o outro. Assim, chega-se a uma discussão ética, na qual o sujeito confere sentido à sua ação.
Palavras-chave: idem, ipse, identidade narrativa, outro, ética, hermenêutica.
Leila Silvia Tourinho
Mestre em Filosofia pela PUC/SP e Professora de Filosofia da Faculdade Católica de Pouso Alegre/MG.
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É cada vez mais recorrente a vinculação do termo reconhecimento às teorias multiculturais. Interessado nesse fenômeno, o filósofo Paul Ricoeur (2006) descreve, em seu livro Percurso do reconhecimento, a polissemia de significados constantes na identificação de si e do outro que esse termo envolve. Para a presente análise, enfatiza-se como Ricoeur problematiza a utilização do termo reconhecimento na filosofia política contemporânea, destacando a leitura que o autor confere aos teóricos do multiculturalismo e a relação que ele denomina reconhecimento mútuo. Ao mencionar a necessidade de oferecer estatuto semelhante à concepção de conhecimento ao termo reconhecimento, Ricoeur traça sua itinerância filosófica levando em conta os significados e as utilizações desse termo presentes em dicionários, obras literárias, filosóficas, sociológicas, entre outros. A principal intenção de Ricoeur traduz-se na necessidade de pesquisar as raras experiências de paz que o reconhecimento pode promover. Diante disso, ganham espaço, em seu trajeto, as ideias de dádiva e ágape, utilizadas pelo autor como contraponto à relação mais usual que se costuma estabelecer entre reconhecimento e luta. Além dessa investigação, a análise proposta apresenta também uma introdução ao multiculturalismo e à retomada de Francis Fukuyama (1992), Charles Taylor (2000) e Axel Honneth (2003) do termo reconhecimento, que ganhou maior significação política na obra do jovem Hegel. Por fim, questiona-se o aparente contraste entre descrição filosófica e prescrição política, com base no percurso sugerido por Paul Ricoeur.
Palavras-chave: Paul Ricoeur, reconhecimento, multiculturalismo.
Daniele Pechuti Kowalewski
Doutoranda em Sociologia da Educação pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora de temas relacionados a educação, multiculturalismo, processos de subjetivação e sociabilidade brasileira. Bolsista CNPq.
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Paul Ricoeur, um dos grandes filósofos franceses do séc. XX, deu uma importante contribuição à teologia, seja pelos diálogos que estabeleceu com eminentes representantes da teologia de seu tempo, seja, principalmente, pelas contribuições que deu à exegese, através de sua hermenêutica filosófica e da forma como utilizou seus recursos no estudo de textos centrais do Antigo e do Novo Testamento. O estudo aqui proposto apresenta, numa primeira parte, alguns dos principais textos nos quais Ricoeur pronunciou-se sobre temas teológicos ou propôs comentários significativos a passagens bíblicas. Num segundo momento, à luz de uma leitura sistemática e sintética do filósofo Jean Greisch, retoma aspectos fundamentais da hermenêutica bíblica de Paul Ricoeur.
Palavras-chave: Paul Ricoeur; teologia, hermenêutica bíblica; hermenêutica dos símbolos; hermenêutica dos textos.
Geraldo De Mori
Doutor em Teologia pelas Facultés Jésuites de Paris – Centre Sèvres. Professor de antropologia teológica e escatologia cristã na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE –BH), onde coordena o PPG de Teologia. Publicou: Le temps. Énigme des hommes, mystère de Dieu. Paris: Cerf, 2006.
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Genericamente, foram três as categorias de seres vivos que ao conviverem com o homem desde sua origem forneceram-lhe grande quantidade de informações que, ao longo do tempo, foram se tornando conhecimento: as plantas, os animais e os próprios homens. Dessa forma, objetiva-se compreender um pouco dessa história na filosofia da antiguidade Greco-Romana, para trazer elementos que auxiliem no entendimento das questões e objetos da Biologia enquanto ciência e mesmo sobre as formas dela investigar.
Palavras-chave: História da Biologia; Biologia e Antiguidade; Biologia e Filosofia; Pensamento Clássico; Seres vivos.
Antonio Fernandes Nascimento Júnior
Doutor em Ciências (USP-Ribeirão) e Doutor em Educação para a Ciência (UNESP-Bauru). Professor Adjunto do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras (UFLA).
Daniele Cristina de Souza
Doutoranda em Educação para a Ciência (UNESP-Bauru).
Baixar artigo: Ideias sobre os seres vivos na antiguidade: A procura de temas estruturantes da biologia contemporânea
A filosofia e a poesia participam da constituição humana e são fundamentais para a educação de uma civilização. Ambas se complementam e, de acordo com boa parte de seus conteúdos, se tornam eficientes para trabalhar o melhor dos afetos humanos. Esse texto tenta resgatar o debate entre essas duas tradições na filosofia antiga, sobretudo a que mostra um elemento comum entre os gregos, a saber, a arte da palavra. Para os gregos, a imitação e a representação, pertenciam a uma tradição. Os rapsodos, eram os interpretes dos poetas. Não encontramos mais rapsodos (nem mesmo na Grécia), sobraram os atores (profissionais e amadores). A representação (em grego: ??????????????) já não se encontra inspirada pelos “deuses” (como na antiga Grécia). No entanto, é na ressonância entre épocas distintas que se pode avaliar a importância das tradições antigas para a civilização moderna.
Palavras-chave: Íon, imitação, rapsódia, poesia.
Diogenes G. M. Silva
Doutorando em Educação pela Unicamp.
Baixar artigo: O Rapsodo inspirado e a Falso Especialista: Uma breve beitura do Íon de Platão
Pretende-se analisar a crítica de Nietzsche à reinterpretação que a religião cristã dá ao sofrimento que leva o homem a uma fuga de si mesmo em busca de uma realidade mais distante da vida. Centrar-se-á, nesse artigo, a leitura da obra Humano, demasiado humano de Nietzsche que é uma obra que se apresenta como um projeto de crítica à filosofia metafísica e expõe a religião cristã como parte desta problemática.
Palavras-chave: Religião; metafísica; procedimento científico; sofrimento.
Tiago Eurico de Lacerda
Doutorando em Filosofia pela PUC-PR
Baixar artigo: A análise de Nietzsche sobre a reinterpretação que a religião Cristã dá ao sofrimento
De um modo geral, a questão da responsabilidade em Arendt aparece de forma clara a partir da sua obra Eichmann em Jerusalém, mas o nosso estudo percorrerá as análises da autora sobre esse assunto a partir da coletânea Responsabilidade e julgamento. É nessa coletânea que, ao aprofundar sobre o tema da responsabilidade, Arendt o relaciona de modo claro com a moral e a lei.
Palavras-chave: Política; Julgamento; Moral; Lei.
José João Neves Barbosa Vicente
Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Doutorando em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Professor Assistente de Filosofia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
Marilane Ramos Luz
Graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
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O presente trabalho objetiva evidenciar a violência estatal em trechos da obra de Hannah Arendt e Michel Foucault. Da primeira será utilizada a parte dois do capítulo V, intitulada “O declínio do Estado-Nação e o fim dos Direitos do Homem” presente no livro “Origens do Totalitarismo”. Quanto ao segundo, a reflexão tomará a Aula de 17 de março de 1976, constante do curso “Em Defesa da Sociedade”, proferido no Collège de France. Ao se colocar em relevo o que cada autor apresenta como a manifestação do direito de espada do soberano, pretende-se apontar as semelhanças e as diferenças, estabelecendo-se, assim, um possível diálogo entre autores que, embora contemporâneos, desenvolveram suas obras de forma independente.
Palavras-chave: Michel Foucault; Hannah Arendt; violência estatal; biopolítica.
Priscila da Silva
Mestranda em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Baixar artigo: Reflexão acerca da violência estatal: Possível articulação entre Hannah Arendt e Michel Foucault
Neste artigo, eu argumento contra a tese de que os juízos causais são influenciados pelos juízos morais. Essa tese foi defendida por filósofos experimentais tais como Knobe & Fraser (2008) e Knobe & Hitchcock (2009) por meio de experimentos baseados em vinhetas. A minha resposta contra esses filósofos é que há uma explicação pragmática do porquê de os experimentos realizados apontarem para a conclusão de que os juízos causais são influenciados por juízos morais e que a verdade dessa tese depende de uma confusão comum feita pelas pessoas ao usar a linguagem natural de modo não rigoroso.
Palavras-chave: Juízos Causais; Juízos Morais; Filosofia Experimental.
Lucas Miotto
Mestrando em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela PUC-Rio.
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O presente trabalho é um estudo preliminar do diálogo entre dois teóricos liberais e alguns de seus conceitos, a saber, a concepção de justiça distributiva em Rawls e Sen. Fizemos uma breve exposição das duas concepções de justiça distributiva, com o intuito de ressaltar tanto uma divergência pontual no que se refere aos elementos quantificantes das duas concepções, quanto para demonstrar que a proposta de Sen se coloca como uma extensão, como correção do discurso rawlseano, que supera ao menos um dos problemas enfrentados por Rawls.
Palavras-chave: Amartya Sen. John Rawls. Bens primários. Capacidade.
Danillo Moretti Godinho Linhares
Mestrando em Ética e Epistemologia pela Universidade Federal do Piauí.
Aryane Raysa Araújo dos Santos
Graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí.
Baixar artigo: Amartya Sen e John Rawls: Um diálogo entre a abordagem das capacidades e a Justiça como equidade